Archive for março 2013

Dia internacional da conscientização

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Nathália Giordano

Já passou o dia internacional das mulheres, mas ainda tem coisa entalada na minha garganta. Já ganhamos flores e parabéns, talvez agora seja a hora de refletir. Já recebemos mimos e chocolates, acho que é hora de mudar alguns costumes. Já fomos elogiadas e ressaltaram nossa fragilidade, será que não tá na hora de pensar em tantos direitos que ainda precisamos conquistar?

O fim da picada foi ler esse textinho:
  
"Feliz dia do “não tenho roupa”. Feliz dia do “ele não é fotogênico, mas juro que pessoalmente é bonitinho”. Feliz dia do “segunda eu começo uma dieta”. Feliz dia do “não tô com ciúmes, vai lá com sua amiguinha vai”. Feliz dia do “amiga chego aí em cinco minutos”. Feliz dia do “tô quase pronta”. Feliz dia do “vamos ao banheiro amiga?”. Feliz dia do “então tá, não digo mais nada”. Feliz Dia da Mulher pra todas nós, mulheres maravilhosas." 
Como se obviamente o problema da mulher fosse não ter roupa para sair ou a falta de beleza fotogênica no ficante. É claro também que nossa qualidade mais especial é ir para o banheiro com a amiga! Oh, céus! Queridas amigas, não compartilhem esse pecado em forma de texto! Deixa eu contar um segredo para vocês: a cada cinco minutos uma mulher é agredida no Brasil. Tem mãe morrendo dentro de casa. Tem filha que apanha por escolher uma saia acima do joelho. O salário da mulher continua sempre menor. Não temos liberdade sexual... Que tal exigir conscientização e respeito em vez de incentivar a distribuição barata de flores? Queria pedir a ajuda de vocês, quero que meu filho não pergunte com quantos a namorada dele já foi para cama. Quero que ele respeite as escolhas de sua mulher. Quero que ele não use sua força física. Quero também que o salário dele seja condizente com sua capacidade e que não passe na frente de sua colega apenas por ter bolas entre as pernas. Quero que ele saiba passar uma camisa e que faça junto com sua mulher os serviços de casa. E acima de tudo, quero que meu filho não seja diferente de seus amigos…

Essa é para Você

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Isadora Otoni

Antes eu queria me apaixonar. Agora me arrependo. Não consigo controlar meus pensamentos. Se vejo um chiclete no chão, penso em grudar em você. Se quero assistir a um show, só assisto se for com você. Não sei como, mas meus desejos sempre terminam com a palavra "você". Mas não um "você" interlocutor qualquer, eu estou falando só de Você, que vai entender tudo isso quando ler.

Agora estou assumindo para quem quiser a minha paixão. Engraçado expor coisas tão íntimas como nós. Mas você sabe, eu quero gritar para o mundo que estou com alguém tão inigualável. E foi difícil te enquadrar nesse simples adjetivo (logo você que não gosta de enquadramentos). É que você é tudo que eu precisava em uma só pessoa, e eu nunca tive alguém assim antes.

Estou te assustando? Relaxa, depois melhora. Pelo menos eu espero que sim. Não é legal essa limerância, não poder viver como qualquer outra pessoa normal. Eu estou me sentido deslocada vendo o mundo sob a lente do seu rosto. E não me leve a mal, mas só com você eu consigo me situar novamente. Então, por favor, gruda em mim e coloca meus pés no chão?

Passei a vida ouvindo que tinha de me conter, não expor meus sentimentos, a me preservar e ser racional para não "dar merda". Mas sabe o que eu acho? Vai é dar tudo certo. Então não decepcione as borboletas do meu estômago, porque elas não podem voltar para o casulo, elas precisam voar.

Carta de suicídio

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Isadora Otoni


Esse texto é super fictício a não ser que sirva a carapuça.

Que me desculpem os intolerantes e religiosos, mas tive que ir. Não acredito em vida insignificante na Terra, e é isso que eu tenho sido. Se eu partir hoje ou daqui 60 anos, não fará diferença. Eu vou sumir de qualquer forma porque não tenho o poder para fazer história.

Eu nunca vou ser o que a sociedade espera de mim. Eu não consigo saber de tudo um pouco. Eu não consigo saber tudo de alguma coisa só. Eu não consigo estudar, trabalhar, cuidar de mim e das minhas relações ao mesmo tempo, alguma coisa sempre fica de lado. Eu não sou um exemplo de pessoa nem para os meus pais, quanto mais para a sociedade.

Eu nunca vou ser o que eu espero de mim. Eu não vou escrever um livro que revolucionará a Língua Portuguesa. Eu não vou criar uma peça de roupa que vai estar em todos os guarda-roupas. Eu não vou inventar. Eu não vou mudar o mundo, porque não sou político e nem revolucionário. Sou um baita de um meio-termo, um zé ninguém, um zero à esquerda, eu sou um.

Eu sou só um consumidor. Consumidor até de sentimentos. Não é a vida que não faz sentido, sou eu. Não sou criador, e nem criativo. Eu espero muito da humanidade, das artes e da ciência. Elas que não esperam nada de mim. E eu ainda nem sou considerado um adulto! Acho até que serei esquecido antes de morrer, com uns 60 anos, em algum lar de idosos jogando Damas (porque eu não vou aprender Xadrez).

A inércia acaba comigo. Em meio a tantas coisas para ler, ver e ouvir, a tantas coisas que foram produzidas desde Camões, eu não tenho forças para fazer nada. Não existem mais tardes livres para mim, existem tardes em que eu poderia estar fazendo alguma coisa mas estou perdendo tempo. E o tempo, coisa que nem posso sentir, acaba comigo.

Sabe aquela pessoa que vocês tanto julgam por ser pedante, pseudo intelectual e medíocre? Essa pessoa sou eu. Sou eu porque tudo que eu quero ser, não consigo. Preciso pelo menos passar a minha imagem, para que no meu velório as pessoas digam "que pena, parecia tão inteligente". E sim, eu fantasio o momento da minha morte. Meu corpo vai ser a obra de arte, o objeto de estudo, um protagonista, finalmente. E tudo que eu quis, que as pessoas me tivessem em consideração, vai acontecer. E quero que essas pessoas chorem e se lamentem de que poderiam ter dado mais ouvidos à mim, mesmo que eu não tivesse nada a dizer.

Eu tenho minha impressão do mundo, mas tenho certeza que a compartilho com milhares de pessoas. Somos sete bilhões, eu não posso ser única em meio a tanta gente. A minha expressão não é singular. Então eu reprimo, para não parecer óbvia e cansativa demais. E isso me mata. A sociedade, meu ser social, meu ser particular: é tudo isso que me faz pegar a chave da cobertura e pular da área de lazer no 16º andar.

Lolla para winners

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Isadora Otoni

Edição 2012 <3

Sim, este post será totalmente irritante para os "lollapalosers" que não conseguirão ir no melhor festival de música do Brasil. Pelo menos, o melhor para mim. O Lollapalooza me surpreende em cada line-up com uma sucessão de bandas e artistas que eu não paro de ouvir. Nem Rock in Rio, nem Atlântida Festival (talvez o Planeta Terra). O que eu gosto mesmo é da cena mais alternativa, e, consequentemente, underground. E por isso não vou perder nenhum dia. Abaixo segue a minha programação para o festival:

Sexta, 29

Boss in Drama - eu nem sei o que som o produtor Péricles anda fazendo ultimamente, mas quando eu tinha uns 15 anos eu adorava as batidas eletrônicas desse nome indie brasileira. Era hype. Haha!
Of Monsters and Men - sim, eu prefiro pular Agridoce (diferente do nome, acho essa dupla muito destemperada). Vou assistir a banda por dois motivos: eles não vão voltar tão cedo para o Brasil e são uma das poucas bandas islandesas profissas. Ah, e dica: não assistam Copacabana Club, eu já assisti e eles só são bons na teoria, ao vivo mesmo deixa a desejar.
The Temper Trap - se eu pudesse, eu proibia todo mundo de não assistir esse show, ou pelo menos ouvir Sweet Disposition. Os australianos conseguiram fazer uma das músicas mais relaxantes que já ouvi na vida. Vão, nem que seja para estender a canga na grama e ficar ouvindo de boa.
Crystal Castles - podem dizer o que quiser, mas Crystal Castles é a minha headline do evento! Acho que todo mundo vai pirar com os gritos da Alice Glass. As músicas são bem a tradução do que é enlouquecer. Se você curtir um eletrônico mais "pesado", não perca. Por favor.
Passion Pit/Deadmau5 - vou dividir. 40 minutos de Passion Pit, e depois Deadmau5. Por que? Sempre fui fã da banda, mas reconheço que o DJ faz um som muito foda. Depois vamos ver quem falou mais alto, o indie pop ou o eletrônico.
The Killers - ahá! The Killers! Achei sensacional o festival trazer essa banda quase sem defeitos. Todo mundo sabe que Brandon Flowers não é um cara de álbum, e sim de hits. Será que podemos esperar aquele show animado em que todo mundo sabe a letra de todas as músicas? Ou será que vamos ter um show do CD novo assim como o Arctic Monkeys fezzZZzZz...?

Sábado, 30
Two Door Cinema Club - sábado não vai ser meu dia preferido. Ele só vai ficar bom às 16h30, com os lindos do 2DCC. Adoro a sonoridade deles, alternativo demais para ser pop e e eletrônico demais para ser rock. Mas não é eletrônico, talvez nem alternativo. Não entenderam? Então escutem Undercover Martyn e Something Good Can Work.
Franz Ferdinand ou Alabama Shakes? - ouvir Alabama Shakes é minha lição de casa desde novembro e até hoje eu não fiz isso. Todo mundo fala que é demais. Eu não perderia Franz por nada nesse mundo, mas já assisti o show da banda ano passado, e eles não lançaram nada até então. O que vocês acham, experimento Alabama Shakes ou fico na zona segura do indie rock do Franz?
Queens of the Stone Age - não tem o que falar, a banda faz história. Teremos o guitarrista Josh Homme para mudar os ares do festival para o hard rock. Pena que não teremos o Dave Grohl para arrebentar esse ano de novo. Bem que podiam fazer uma surpresinha.
The Black Keys - acho curioso o Black Keys tocar no horário dos headlines e não o QOTSA. Mas eu prefiro eles mesmo! Acho o rock deles bem fresh. Eles souberam evoluir e adaptar o som na cena atual.

Domingo, 31
Vivendo do Ócio - assisti o show deles na Virada Cultural mas não tinha ouvido as músicas deles antes. Gostei tanto da apresentação que baixei a discografia toda e amei. Tem gente que ainda acha o rock nacional decadente. Será que eles já ouviram Vivendo do Ócio?
Foals - sempre ouvi falar dessa banda, mas só recentemente ouvi suas músicas. É daquele tipo que te dá arrepios, com ótimos arranjos. Não é por menos que eles foram enquadrados no gênero "math rock", que é, literalmente, um rock bem calculado. Ouçam o álbum Holy Fire.
Kaiser Chiefs - já perdi essa banda em 2008, quando eles tocaram no Planeta Terra. Mas dessa vez eu vou só para ouvir Ruby ao vivo. Até porque não sou mais fã deles, enjoei um pouco.
The Hives - outra banda com um grande potencial nostálgico. Uma das músicas mais ouvidas no meu last.fm é Tick Tick Boom, até porque fiquei um ano sem internet e não pude atualizar meu iPod. Hahaha! Mas eles têm outras ótimas músicas, porque são 20 anos de carreira e um álbum novo de 2012.
Hot Chip - muito triste em escolher Hot Chip e descartar Planet Hemp, mas eu tenho esperança que terei outras oportunidades de assistir um show da recém ressuscitada banda brasileira. Então, mais uma eletrônica para o meu line-up. E eu estarei pronta para dançar.
Pearl Jam - fechar bem, não é mesmo? A banda que atravessou o grunge vai representar nesse festival. Não é meu estilo musical, mas a qualidade é inegável. Os fãs de Eddie Vedder piram. Fora que os caras possuem um dos melhores álbuns da história do rock: Ten.



Fica a dúvida: quem é que vai trazer a Grimes para o Brasil?

Que lindo Dia!

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Isadora Otoni

Ah, Dia das Mulheres! Como nos sentimos felizes nessa data, quando tantas pessoas nos parabenizam, ressaltam nossa fragilidade, nos agradam com flores e chocolates e universalizam um conceito de mulher! Também nos sentimos muito felizes ao receber elogios como "gostosa, putinha" na rua, ao saber que a cada 15 segundos uma mulher é espancada por um homem no Brasil e ao perceber que os salários das mulheres são sempre menor do que os dos homens, mesmo que eles exerçam uma mesma função.

Sentimos tanto orgulho de ter uma vagina. Sabe, isso nos faz um ser tão sensual, bonito, beirando a perfeição. Possuímos tantas qualidades singulares, não é mesmo? Como, por exemplo, um homem não pode cuidar dos filhos e da casa se não possuir nossa sensibilidade para essas atividades. Não existe macho apto o suficiente para cuidar dos assuntos domésticos, isso seria um absurdo.

E por que não fazemos também o dia dos homens? Afinal, nossa sociedade poderia ser matriarcal. O homem sofre tanta pressão, tanto preconceito e é tão injustiçado como nós! Oras bolas, onde já se viu uma mulher que quer ganhar o mesmo salário que os homens? Isso é uma desestruturação da família brasileira! Por isso devemos ressaltar o papel do homem na sociedade, mostrar como eles devem ser respeitados pelas mulheres. E, claro, mostrar como essa lógica também se aplica aos homens brancos (que caucasiano nunca sentiu a necessidade de uma data simbólica como o Dia do Orgulho Branco, não é mesmo?)

Vamos continuar sentadas no nosso sofá vendo as diversas manifestações de admiração às mulheres pelo Facebook e deixar que as que saem às ruas cansem à toa. Ué, o feminismo não existe mais, todas as conquistas já foram feitas, vivemos em uma sociedade justo e igualitária. Estamos muito satisfeitas com as creches, as maternidades e o espaço público é reinado pelo respeito. É muita felicidade para um gênero só!


SÓ QUE NÃO!


Ação feminista na Praça da Sé do dia 8 de março de 2012

Society, you're a crazy breed

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Nathália Giordano


“Oh, it's a mystery to me
We have agreed with which we have agreed
And you think you have to want more than you need
Until you have it all you won't be free

Society, you're a crazy breed
Hope you're not lonely without me...

When you want more than you have
You think you need...
And when you think more than you want
Your thoughts begin to bleed
I think I need to find a bigger place
Because when you have more than you think
You need more space

Society, you're a crazy breed
Hope you're not lonely without me...
Society, crazy indeed
Hope you're not lonely without me...

There's those thinking, more-or-less, less is more
But if less is more, how you keeping score?
Means for every point you make, your level drops
Kinda like you're starting from the top
You can't do that...

Society, you're a crazy breed
Hope you're not lonely without me...
Society, crazy indeed
Hope you're not lonely without me...

Society, have mercy on me
Hope you're not angry if I disagree...
Society, crazy indeed
Hope you're not lonely without me..."

O verdadeiro Chris Mccandless

Foi com essa música que comecei escrevendo esse post, há tempos tento escrever algo que expresse um pouco do tanto que me envolvi com a história do Chris Mccandless. Comecei assistindo ao filme incrível "Na Natureza Selvagem" dirigido por Sean Penn, há boatos de que as cenas são lentas e o filme é cansativo. Para mim essas críticas definitivamente não fazem sentido algum. A cada minuto que passava meus olhos piscavam com menor velocidade, ficou difícil de tirar o olhar da tela. Que tipo de jovem abandona tudo, queima o último tostão e sai sozinho em busca de uma aventura?

Foi mais ou menos assim a história do meu amigo Alexander Supertramp – apelido criado por ele e adotado durante sua viagem – que estava desconfiado demais das relações humanas e resolveu partir rumo ao Alasca em busca da natureza selvagem.

Alex foi bastante influenciado por Tolstoi e Thoreau em suas leituras. Ansiava encontrar um local onde pudesse estar em contato com a natureza pura, longe dessa sociedade materialista.

A viagem o transformou em um símbolo de resistência a realidade social que nos é imposta. Chris não aceitava seguir os planos que haviam feito para sua própria vida. “Agora é hora de entrar na faculdade. Já está na hora de comprar um carro. Guardar dinheiro. Casar....” O jovem não suportava a ideia de não ter controle sobre sua vida e também se indignava com a visão de que seus pais faziam de tudo para ficar bem frente à vizinhança.

Será que Alex foi um herói resistente? Uma alma de aventureiro? Ou somente um ingênuo idealista influenciado por leituras antigas?
Filme "Na Natureza Selvagem"

Após a leitura do livro de John Krakauer – que inspirou o filme - percebi ainda mais que tudo o que surge são somente hipóteses, ele pode ter sido alguém intenso, cheio de questões existenciais e que não conseguia simplesmente seguir o fluxo de vida padrão, ou pode mesmo ter sido um jovem que lutou contra a sociedade americana doente.

Para mim, Supertramp se permitiu seguir os instintos. Correu atrás de suas próprias vontades – aquelas que vêm de dentro do coração – e atravessou as fronteiras de seus pensamentos e barreiras pessoais. Experimentou a vida que tinha curiosidade, encontrou suas conclusões, mas aí já não tinha mais como voltar e Alex morreu dentro do Magic Bus.

Nada disso pode ser suicídio. Tem gente morre quentinho com 90 anos e nunca encontrou uma resposta, morre sem nunca ter vivido. Alex encontrou e, na verdade, foi cedo até demais. Seguiu os gritos do seu coração sedento por aventuras e isso não pode ser errado.

Além da história intrigante e envolvente, não posso jamais esquecer de falar da trilha sonora do filme feita pelo maravilhoso Eddie Vedder. Parece que o álbum não existe sem o filme e o filme não existe ele. Eu não posso mais ouvir porque já banalizei as músicas de tanto que escuto. Definitivamente é um dos meus álbuns preferidos.

Então escutem essa trilha sonora perfeita e sigam em busca de suas curiosidades e perguntas pessoais. Deixem suas crises existenciais aflorarem. Questionem-se e vivam intensamente.

"Tanta gente vive em circunstâncias infelizes e, contudo, não toma a iniciativa de mudar sua situação porque está condicionada a uma vida de segurança, conformismo e conservadorismo, tudo isso que parece dar paz de espírito, mas na realidade nada é mais maléfico para o espírito aventureiro do homem que um futuro seguro. A coisa mais essencial do espírito vivo de um homem é sua paixão pela aventura. A alegria da vida vem de nossos encontros com novas experiências e, portanto, não há alegria maior que ter um horizonte sempre cambiante, cada dia com um novo e diferente sol"
Chris McCandless


Por que falar não é uma ação?

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Isadora Otoni

Ocasionalmente, ouvimos em conversas entre amigos ou até em alguns debates importantes que não podemos ficar no campo da fala quando se trata de alguma luta ou movimento, devemos agir. Sempre concordei, mas ontem me veio à mente: mas falar, escrever, compartilhar no facebook, também não seriam formas legítimas de lutar por algo que você acredita? Concluí que sim, o discurso é uma das formas mais válidas de agir contra visões retrógradas, injustiças sociais, e outras causas.


Filme "A Corrente do Bem" que retrata como nossa relação com o outro pode provocar mudanças significativas

"Devemos ser a mudança que queremos ver no mundo" disse Gandhi e várias pessoas na internet. Concordo. Tenho consciência de algumas pessoas que me mudaram ou me abriram os olhos justamente porque eram pessoas diferentes das quais eu convivia. Por exemplo, uma amiga da internet (Giulia) me fez pensar melhor na questão do aborto quando eu tinha apenas 12 anos, usando seu ótimo (e avançado) discurso. Outras amigas (Carol e Thaís), da minha cidade, me mostraram como o que eu dizia sobre a homossexualidade - quando eu tinha uns 10 anos - era opressor. Talvez essas pessoas não tenham consciência de suas lutas, mas eu tenho consciência de como seus discursos mudaram minha visão e ação no mundo.

Sim, os compartilhamentos no facebook são formas pertinentes de mudar o mundo! Afinal, divulgar os objetivos do movimento feminista, mostrar as dificuldades dos deficientes físicos para circular em São Paulo, promover um debate democrático sobre cotas raciais e outras coisas que são frequentes no nosso contato com a internet e/ou conversas de bares e promovem uma atenuação nos preconceitos cotidianos, uma reflexão profunda e pessoal sobre os problemas da nossa sociedade. Isso é o que move cada indivíduo para  lutar por um mundo melhor, e isso que une todos os indivíduos nessa luta.


Passeata para conquistar os direitos civis dos negros nos Estados Unidos onde Martin Luther King realizou o discurso comovente "I Have a Dream"
Não precisamos ser grandes, nós precisamos ser muitos e unidos. Não é só no Congresso que as coisas mudam, até porque, algumas leis são totalmente ineficientes. Como disse uma professora minha, no Brasil as leis "pegam ou não pegam". Nós não precisamos ser políticos, juízes ou policiais. Se nós formarmos um grupo, uma união, nós podemos mudar a ética predominante. Juntos podemos mudar o ponto de vista que comanda o país. Afinal, as coisas não mudam por si só, realmente, mas o mesmo vale para um protesto ou uma lei: isso não garante que a "justiça" seja feita. Somos responsáveis pelo futuro da ética, da política, e, no caso dos meus colegas e de mim, do jornalismo.

O que minha psicóloga falou (em 2009) era verdade: tentar mudar a forma como os mais velhos (meus pais) vêem o mundo é dar murro em ponto de faca. Mas eu vou continuar me machucando, porque não admito que os conceitos antigos mandem e desmandem na realidade em que vivo.