Melancolia

Nathalia Giordano

Lá vem ele, está me seguindo pelas esquinas de novo. 


Essa semana resolveu amarrar minhas mãos, deixou meu trabalho acumulado. Logo eu que havia despistado esse devorador de almas, jurei que a minha seria poupada. 
Haja força para manter o corpo funcionando, para deixar a vida nos trilhos. Como um carrossel, um cavalgar atrasado e, num piscar de olhos, estão todos perdidos fora do ciclo. Lá fora, a plateia assiste a tragédia e diz que a culpa é de quem deixou o primeiro cavalo desacelerar.
O nosso bater de asas é regrado, quem voa mais alto está fadado à queda. Justo seria se a rotação da Terra respeitasse a individualidade de cada voo.
E lá vem ele, gritando nos meus ouvidos que não vou conseguir voltar ao céu. Hoje me disse que os cavalos do meu carrossel se perderam por aí. Os desestímulos são tão altos que não consigo mais ouvir minhas próprias ideologias. Tanto faz. Quem era eu mesmo? Olhei no espelho e vi o reflexo assustador dele.
Ao abrir os olhos, todas as manhãs, vejo aquela sombra rondando as paredes do meu quarto. De novo, eu tinha prometido dessa vez chegar a tempo no trabalho, mas ele me prendeu na cama. Fiquei amarrada pelo peito, rolando de um lado para o outro até me soltar. O relógio, maior que eu, avisando que não daria tempo. Não deu.
Lá vem ele, está me seguindo pelas esquinas de novo. Vou correr mais rápido, vou abraçar vencedores, vou me munir de armas. Hoje ele me alcançou, mas amanhã não me pega.

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