Sapo alucinógeno


Esse texto é contra a exploração de animais, mas a favor da compreensão das possibilidades da natureza. Sim, existe uma espécie de sapo que libera DMT

Isadora Otoni



Existem muitas polêmicas a cerca do que será exposto nesse texto. Por isso, peço para que você leia até o final para entender minha linha de raciocínio, e assim questionar o que você sentir que deve ser questionado. Eu aprecio o convite ao debate.

Há algum tempo, em uma roda de conversa entre amigos fritos, jogaram um assunto que me deixou muito curiosa: é possível utilizar o veneno liberado pelo sapo para fins recreativos. Encontrei com dificuldade algumas informações na internet sobre o tema. O texto mais confiável que encontrei sobre o assunto foi o estudo Alucinógenos Naturais: um Voo da Europa Medieval ao Brasil, publicado em 2009. Ainda assim, a referência ao tema é breve, resumido ao seguinte trecho: "A bufotenina, alucinógeno extraído da pele do sapo, possui propriedades alucinógenas muito semelhantes à DMT. A diferença entre estes alucinógenos é a presença de uma hidroxila na estrutura da bufotenina. Esta substância é produzida por espécies vegetais do gênero Anadenanthera e encontrada na pele de sapos do gênero Bufo.”

Conversei então com o biólogo Thiago Vinicius Pereira, que apesar de nunca ter realizado uma pesquisa sobre o tema, me explicou sobre o sapo alucinógeno. Na realidade, o bufotenina é composto por Dimetiltriptamina (DMT), toxina triptamina do grupo dos alcalóides. Esse grupo de substâncias psicoativas era muito usado pelos xamãs com fins medicinais, como cura do câncer e outras doenças. Fazem parte desse grupo a cafeína, cocaína, psilocibina (do cogumelo), codeína (da papoula) e outros nomes que você provavelmente conhece.


Rhinella marina (Wikimedia Commons)
Segundo Thiago, o bufotenina pode ser encontrado nas espécies Rhinella marina, encontrada principalmente na mata atlântica no Brasil, e Bufo alvarius, original dos Estados Unidos. Por meio das glândulas que ficam atrás dos ouvidos dessas espécies, podemos obter o DMT. Se essa foi a primeira vez que você ouviu falar nessa substância, saiba que ela é considerada como um enteogênico. Ao pé da letra, isso significa que ela causa a “manifestação interior do divino”. Mas pode também ser considerado um forte alucinógeno por alterar seu estado de consciência.

Mas para usar o DMT, explorar um sapo não é o melhor caminho.

Primeiro, porque você teria que tirar o animal de seu habitat natural e submetê-lo ao estresse de extrair o DMT de suas glândulas. Isso é exploração. E talvez exista gente que faça isso sem ter essa consciência.

Bufo alvarius (Wikimedia Commons)
Segundo, porque existem outras toxinas presentes no veneno dos sapos Rinella marina. A ingestão oral destas substâncias podem ocasionar efeitos colaterais inesperados, como ataques epilépticos, coma e eventualmente a morte. 

Terceiro, porque existem outras formas de experimentar o DMT. A natureza é tão fascinante que essa substância pode ser encontrada em vários gêneros de plantas, como Acacia, Anadenanthera, Chrysantheum, Psychotria, Desmanthus, Pilocarpus, Virola, Prestonia, Diploterys, Arundo, Phalaris. Esse é, inclusive, o princípio ativo da ayahuasca, bebida utilizada em rituais como o de Santo Daime. O próprio corpo humano sintetiza DMT. De acordo com estudos do psiquiatra Dr. Rick Strassman, a glândula pineal é a provável responsável por isso (recomendo uma pesquisa sobre outras possíveis responsabilidades da glândula pineal).

Preparo de ayahuasca (Wikimedia Commons)
Se por algum instante você se sentir desconfortável com esse texto e pensar que ele faz apologia às drogas, relembre: As drogas estão aí há milênios. Elas nascem da terra. É utópico pensar que alguma política conseguirá exterminá-las. Então, o melhor caminho é desmitificar as drogas, legalizá-las, e trabalhar com a redução de danos.

Ps: Esse texto não tem nada a ver com a “vacina do sapo”. Essa vacina é extraída da perereca amazônico Phyllomedusa bicolor, ou Kambô. A aplicação do veneno causa grande desconforto (calor, náuseas, dores no estômago) por aproximadamente 15 minutos. Essa medicina é usada para fortalecer o sistema imunológico e para afastar o “panema” (má sorte).

This entry was posted on quarta-feira, 25 de março de 2015. You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. You can leave a response.

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