Segurem seus cabritos

Nathália Giordano

Um tempinho atrás, fiz um trabalho de história sobre o papel da mulher. Meu grupo era bapho e o tema mais ainda. A apresentação foi chocante para parte da sala e eu até hoje me pergunto o porquê.


Mulherada queimando o sutiã
Tudo começou quando falei sobre a revolução sexual, aquele momento lindo que surgiu junto com a pílula anticoncepcional, o sexo passou a ter mais do que uma finalidade e se tornou uma fonte de prazer. A moral burguesa e a Igreja pregavam, continuam pregando, que o sexo é somente para a reprodução e que o prazer é para MULHER de vida fácil. Hum, entendemos... mas e o homem? Por que ele pode sentir prazer?


Agora, em 2013, cada mulher carrega nas costas um passado triste. Nossas antepassadas foram domesticadas desde pequenas a desempenhar o papel de esposa, nunca foi permitido que essas meninas conhecessem o seu corpo e quando mulheres não puderam escolher os seus parceiros e nem satisfazer suas vontades sexuais (ou naquela época, qualquer outra vontade).


Estou lendo “Gabriela, Cravo e Canela” e o livro retrata muito bem essa época, os homens corriam para o Bataclan todas as noites e as mulheres nada podiam dizer. Afinal , quando o homem trai, a culpa é da mulher. E quando uma delas resolvia sair da linha era morte na certa. Outra passagem marcante do livro é quando uma jovem dá um jeito de fingir ser virgem para que o marido estendesse o lençol com sangue na janela, comprovando a dignidade da esposa. Esse passado real deixou nossa sociedade cheia de marcas machistas e amenizá-las é nossa obrigação.


É engraçado escrever esse texto e dizer “nossas antepassadas”, se até hoje a realidade não é tão bela. Existem sociedades que ainda mutilam o clitóris das meninas, fazendo com que elas nunca sintam prazer, e assim, se tornem mulheres dignas. Essa mutilação trás consequências gravíssimas como choque cardíaco, hemorragias e inúmeras complicações emocionais.


Em outras proporções, aqui no Brasil também sofremos com essa realidade. O tabu ainda é grande, a  questão não é buscar o prazer a qualquer custo, mas sim ter a liberdade de escolha. Por exemplo, a exigência da camisinha, escolher se deseja ou não e como deseja. E, principalmente, ter a chance de conhecer o próprio corpo.


O preâmbulo da carta da ONU estabelece como um dos objetivos centrais a igualdade dos direitos entre homens e mulheres. Igualar salários, proteger as mulheres da violência, entre outros. Em nenhum momento trata-se da questão da liberdade que a mulher deve ter sobre o seu próprio corpo.


Parece exagero meu, né? Mas, é um assunto importante, se não formos devidamente respeitadas como mulheres, o machismo se alastra. Aí, torna-se um problema longe de soluções simples. Como as epidemias de estupro na África, Índia e outros países. Os homens se sentem no direito de fazer o que bem entenderem, o corpo da mulher passa a ser propriedade deles.


Rape-aXe, uma camisinha feminina anti estupro que tem dentes internos. Prende no pênis do estuprador e só sai com ajuda médica. O agressor sente uma imensa dor e mal consegue andar. Aí, do hospital vai pra cadeia.




Então, é bom pensar 18 vezes antes de dizer: “prenda sua cabra que meu cabrito está solto”. Moça, se você diz isso, você machista e gerações futuras sofrerão com sua ignorância.


No trabalho eu pesquisei um pouco sobre a diva Leila Diniz que veio ao mundo para quebrar tudo e matar esse machismo. A atriz teve um filho com um homem que não era o seu marido, isso na década de 1960, época em que a repressão dominava o Brasil. Para quem nasceu na década de 90, assim como nós, é como se fosse a avó de vocês. Imaginem na época de suas avós ter um filho sem ser casada e ainda aparecer na praia de biquíni com o barrigão de fora. Sente em sua cadeira, Leila ainda disse numa entrevista: “Transo de manhã, de tarde e de noite”. Foi uma mulher a frente do seu tempo e quebrou inúmeras convenções e nos ajudou a conquistar vários direitos. Ela falava e vivia os seus discursos, não era só conversinha. Simplesmente não estava nem aí pra opinião alheia.


Leila em "Todas as Mulheres do Mundo" - Domigos de Oliveira


"Sem discurso nem requerimento, Leila Diniz soltou as mulheres de vinte anos presas ao  -tronco de uma especial escravidão." - Carlos Drummond de Andrade

Leia Diniz exibindo o barrigão







This entry was posted on segunda-feira, 28 de janeiro de 2013. You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. You can leave a response.

One Response to “Segurem seus cabritos”