Nathália Giordano
Ontem fui dormir e não conseguia pegar no sono. Meus pensamentos começaram a me controlar e as várias pessoas que moram dentro de mim resolveram gritar e impedir que eu dormisse. Surgiram tantas coisas na minha cabeça e no final o resumo de minha aflição era o medo de perder alguém ou até mesmo de me perder dentro de mim.
Medo de ir dessa pra outra, melhor ou pior. Não sei. Talvez
falte espiritualidade, acho difícil, mas nunca se sabe. Alias nunca ninguém sabe,
impossível ter certeza de algo tão abstrato. Tenho medo de morrer e não saber que
morri, não ter nada para viver depois, ficar numa escuridão infinita e nem me
dar conta disso.
Fechei os olhos, tentei me lembrar de tudo o que há de bom
no mundo, mas minha respiração ficou ofegante, minhas mãos suavam frio e por um
segundo achei que ia pirar. Nada que nunca aconteceu antes, mas estou aprendendo
a me segurar em rédea curta para controlar essas loucuras noturnas.
Alguns minutos se passaram e finalmente eu consegui guiar meus
pensamentos. Senti raiva e alívio ao mesmo tempo. Depois, ainda sem sono, passei
a refletir se todos sentem essa falta de controle e aflições horríveis antes de
dormir. Acho que não, mas no fundo não me importo. A verdade é que quem tem
medo está vivendo.
Tem gente que não tem ninguém dentro, dormiu e esqueceu-se de acordar, está o tempo inteiro no piloto
automático e não vive de verdade. Não tem medos, angustias e incertezas. Nunca
sai do previsível e se sente tão confortável com a rotina medíocre da vida que
não precisa se afligir com coisas distantes e abstratas.
Então, por fim agradeci por ter esses espíritos quase
incontroláveis dentro de mim, por quebrar regras e conceitos, por sair do
script, por ter medos de alguém que dá a cara para bater e segue as intuições,
por ter alguém criança dentro de mim cheia de vontade de conhecer coisas novas e
que ao mesmo tempo sabe dar valor a uma chuva no final da tarde e, finalmente,
por ter a capacidade de, depois de tudo isso, conseguir controlar minha mente maluca
e voltar a dormir.
Nath, também tenho esses pensamentos. São muito angustiantes e me fazem questionar o sentido da vida. Por que a gente nasce se é pra morrer depois, não é? Me irrita. Às vezes preferia não ter nascido só para não enfrentar esse dilema. Mas só às vezes. Bjs
ResponderExcluir"Por qué no dormiré?
ResponderExcluirPorque en la oscuridad
hay ubicuos ejércitos
que llegan de mi infancia" Silvina Ocampo
Bia, que lindo poema!
ResponderExcluirOntem mesmo meu pai me disse para tentar transformar minhas experiências pessoais em poesia, acho difícil. Ela conseguiu transcrever bastante o que sinto.
Obrigada por acrescentar mais coisas no blog!
Beijao