Minha Vida Agora, um futuro clássico


Isadora Couto



Engraçado. Se me pedissem para escrever sobre o livro de Meg Rosoff quando eu ainda estava na metade, o texto saíria totalmente diferente deste. Criticaria a escrita, os personagens (inclusive a protagonista) e o enfoque. Mas, afinal, a escrita é realmente ruim, os personagens são difíceis de compreender e o foco adotado só se totaliza perto do final. Só me restou admiração pelo livro que achei entre velhas obras no fundo de uma FNAC.

Narrado pela protagonista, uma garota de 15 anos que sai de Nova Iorque para morar com os primos e a tia em uma fazenda do Reino Unido, a gramática e a ortografia são bem tortuosas (porém, inteligíveis), o que se justifica no final. A garota chama Elizabeth, mas, inexplicavelmente, atende por Daisy. Logo quando ela chega no aeroporto começa o seu fascínio pelos primos: Edmond, de 14 anos, vai buscá-la fumando e dirigindo um jipe. Não é pelos hábitos, no entanto, que ela se encanta por eles. Daisy se convence de que eles possuem poderes sobrenaturais, como ouvir pensamentos ou conversar com animais.

Tudo não passa de sua admiração por algo que fuja tanto de sua rotina. E o mais drástico ainda estava por vir. Logo nos seus primeiros dias do outro lado do oceano, uma guerra explode na Europa. Daisy e seus três primos (três garotos e uma menina) se veem completamente sozinhos, visto que a mãe dos garotos ficou presa em outra cidade. É bem surreal o que acontece a partir daí. A protagonista se relaciona com Edmond de forma precoce, o governo não parece se interessar pelos garotos abandonados e a escassez de comida ameaça atingi-los. E então, o que eles mais temiam acontece.

O tempo em que se passa a história é fictício. Existiam e-mails e aeroportos, mas a linha telefônica era precária e os celulares parecem não existir. Não sabemos ao certo o motivo da guerra, mas percebemos  como ela atinge até as pessoas mais alheias. Na realidade da obra, as crianças se tornam responsáveis pela falta de responsabilidade dos pais. Exceto Daisy, um pouco egoísta, que tem o comportamento anoréxico quando as pessoas estão morrendo de fome. A obra encanta pela cumplicidade que essas crianças "abandonadas" têm entre elas; e ao fechar o livro entendo o porquê o The Observer descreve como "Poderoso e envolvente, um futuro clássico".



ROSOFF, Meg. "Minha Vida Agora", Galera Record.

This entry was posted on sábado, 16 de fevereiro de 2013. You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. You can leave a response.

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