O capacho do ano

Isadora Otoni

Ocasionalmente, ouvimos em conversas entre amigos ou até em alguns debates importantes que não podemos ficar no campo da fala quando se trata de alguma luta ou movimento, devemos agir. Sempre concordei, mas ontem me veio à mente: mas falar, escrever, compartilhar no facebook, também não seriam formas legítimas de lutar por algo que você acredita? Concluí que sim, o discurso é uma das formas mais válidas de agir contra visões retrógradas, injustiças sociais, e outras causas.


Filme "A Corrente do Bem" que retrata como nossa relação com o outro pode provocar mudanças significativas

"Devemos ser a mudança que queremos ver no mundo" disse Gandhi e várias pessoas na internet. Concordo. Tenho consciência de algumas pessoas que me mudaram ou me abriram os olhos justamente porque eram pessoas diferentes das quais eu convivia. Por exemplo, uma amiga da internet (Giulia) me fez pensar melhor na questão do aborto quando eu tinha apenas 12 anos, usando seu ótimo (e avançado) discurso. Outras amigas (Carol e Thaís), da minha cidade, me mostraram como o que eu dizia sobre a homossexualidade - quando eu tinha uns 10 anos - era opressor. Talvez essas pessoas não tenham consciência de suas lutas, mas eu tenho consciência de como seus discursos mudaram minha visão e ação no mundo.

Sim, os compartilhamentos no facebook são formas pertinentes de mudar o mundo! Afinal, divulgar os objetivos do movimento feminista, mostrar as dificuldades dos deficientes físicos para circular em São Paulo, promover um debate democrático sobre cotas raciais e outras coisas que são frequentes no nosso contato com a internet e/ou conversas de bares e promovem uma atenuação nos preconceitos cotidianos, uma reflexão profunda e pessoal sobre os problemas da nossa sociedade. Isso é o que move cada indivíduo para  lutar por um mundo melhor, e isso que une todos os indivíduos nessa luta.


Passeata para conquistar os direitos civis dos negros nos Estados Unidos onde Martin Luther King realizou o discurso comovente "I Have a Dream"
Não precisamos ser grandes, nós precisamos ser muitos e unidos. Não é só no Congresso que as coisas mudam, até porque, algumas leis são totalmente ineficientes. Como disse uma professora minha, no Brasil as leis "pegam ou não pegam". Nós não precisamos ser políticos, juízes ou policiais. Se nós formarmos um grupo, uma união, nós podemos mudar a ética predominante. Juntos podemos mudar o ponto de vista que comanda o país. Afinal, as coisas não mudam por si só, realmente, mas o mesmo vale para um protesto ou uma lei: isso não garante que a "justiça" seja feita. Somos responsáveis pelo futuro da ética, da política, e, no caso dos meus colegas e de mim, do jornalismo.

O que minha psicóloga falou (em 2009) era verdade: tentar mudar a forma como os mais velhos (meus pais) vêem o mundo é dar murro em ponto de faca. Mas eu vou continuar me machucando, porque não admito que os conceitos antigos mandem e desmandem na realidade em que vivo.

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