Isadora Otoni
Em uma rodoviária do litoral brasileiro, observei uma cena
que me colocou para pensar. Um homem de uns 35 anos tentava vender um único
colar, garantindo que era de prata verdadeira. Todo mundo sabia que era
roubado. Acompanhada de seu filho adolescente, uma mulher que usava roupas
humildes analisou o colar e acabou levando a peça por 10 reais.
Aquilo estava errado. Em toda a minha formação, aprendi que
roubar é errado, que financiar o roubo é errado. Mas fiquei de mãos atadas. O
que eu poderia dizer? Que alguém pode ter aquela corrente e seu filho não? Que
eles não são merecedores de tais adornos? Que alguém trabalhou duro por aquele
colar e ela não? Eu deveria também emendar uma lição sobre o porquê ela estava
viajando de ônibus enquanto tantos outros viajavam de avião?
Aprendemos a julgar esse tipo de delitos sem antes entender
o que leva as pessoas a cometerem-nos. Foi o mesmo processo com a divulgação do
vídeo de uma mulher que gostaria de comprar uma calça de 300 reais para sua
filha, usando o dinheiro do programa Bolsa Família. No Brasil (e em diversos
outros países), acreditamos que a classe média merece mais que a população
carente. Que só nós, estudantes de ótimas universidades, frequentadores de ótimas
baladas e herdeiros de negócios da família, merecemos uma calça da Calvin
Klein.
É tão fácil compreender esse tipo de injustiça que na época do sucesso do vídeo desacreditei na boa vontade dos meus contatos do Facebook. Ora, basta questionar: uma médica, uma advogada ou uma engenheira realmente trabalha mais que uma lavradora ou uma funcionária doméstica?
Belo texto, Isadora! Gosto muito do teu blog. Ba, um beijo, guria!
ResponderExcluirCamila Cáceres