Archive for fevereiro 2013

O capacho do ano

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Isadora Otoni

Ocasionalmente, ouvimos em conversas entre amigos ou até em alguns debates importantes que não podemos ficar no campo da fala quando se trata de alguma luta ou movimento, devemos agir. Sempre concordei, mas ontem me veio à mente: mas falar, escrever, compartilhar no facebook, também não seriam formas legítimas de lutar por algo que você acredita? Concluí que sim, o discurso é uma das formas mais válidas de agir contra visões retrógradas, injustiças sociais, e outras causas.


Filme "A Corrente do Bem" que retrata como nossa relação com o outro pode provocar mudanças significativas

"Devemos ser a mudança que queremos ver no mundo" disse Gandhi e várias pessoas na internet. Concordo. Tenho consciência de algumas pessoas que me mudaram ou me abriram os olhos justamente porque eram pessoas diferentes das quais eu convivia. Por exemplo, uma amiga da internet (Giulia) me fez pensar melhor na questão do aborto quando eu tinha apenas 12 anos, usando seu ótimo (e avançado) discurso. Outras amigas (Carol e Thaís), da minha cidade, me mostraram como o que eu dizia sobre a homossexualidade - quando eu tinha uns 10 anos - era opressor. Talvez essas pessoas não tenham consciência de suas lutas, mas eu tenho consciência de como seus discursos mudaram minha visão e ação no mundo.

Sim, os compartilhamentos no facebook são formas pertinentes de mudar o mundo! Afinal, divulgar os objetivos do movimento feminista, mostrar as dificuldades dos deficientes físicos para circular em São Paulo, promover um debate democrático sobre cotas raciais e outras coisas que são frequentes no nosso contato com a internet e/ou conversas de bares e promovem uma atenuação nos preconceitos cotidianos, uma reflexão profunda e pessoal sobre os problemas da nossa sociedade. Isso é o que move cada indivíduo para  lutar por um mundo melhor, e isso que une todos os indivíduos nessa luta.


Passeata para conquistar os direitos civis dos negros nos Estados Unidos onde Martin Luther King realizou o discurso comovente "I Have a Dream"
Não precisamos ser grandes, nós precisamos ser muitos e unidos. Não é só no Congresso que as coisas mudam, até porque, algumas leis são totalmente ineficientes. Como disse uma professora minha, no Brasil as leis "pegam ou não pegam". Nós não precisamos ser políticos, juízes ou policiais. Se nós formarmos um grupo, uma união, nós podemos mudar a ética predominante. Juntos podemos mudar o ponto de vista que comanda o país. Afinal, as coisas não mudam por si só, realmente, mas o mesmo vale para um protesto ou uma lei: isso não garante que a "justiça" seja feita. Somos responsáveis pelo futuro da ética, da política, e, no caso dos meus colegas e de mim, do jornalismo.

O que minha psicóloga falou (em 2009) era verdade: tentar mudar a forma como os mais velhos (meus pais) vêem o mundo é dar murro em ponto de faca. Mas eu vou continuar me machucando, porque não admito que os conceitos antigos mandem e desmandem na realidade em que vivo.

Lutar contra a manada

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Isadora Couto

Quem nunca se deixou levar pela maioria e fez algo que não faria sozinho? Quem nunca compartilhou uma "piada" na internet que não faz sentido algum só porque se tornou viral? Esse nosso comportamento de massa é conhecido pela psicologia como Efeito Manada. Em alguns casos, as atitudes de massa levam a coisas banais, como a popularização de uma pessoa na internet (Luíza que está no Canadá). No entanto, certos comportamentos podem levar a coisas mais graves, como crises financeiras e até mortes.

Por que é tão grave assim? Porque quando estamos atuando em bando, ignoramos a ética e a moral e fazemos coisas que normalmente não faríamos. O caso de humilhação de Geisy Arruda na Uniban é melhor exemplo desse efeito, em que pessoas se juntaram para hostilizar a estudante e muitas delas não sabiam o porquê. Em 2002, a síndrome respiratória conhecida como Sars tomou grande proporções devido às correntes de falsas informações que circularam na internet, o que causou um prejuízo de 100 bilhões de dólares com fechamento de hotéis e restaurantes.

As grandes aglomerações podem gerar tumultos com prejuízos que vão além do dinheiro. Basta uma informação para levar a um pânico coletivo, causando brigas e pisoteamento. Em 2008, a euforia causada pelo Black Friday (dia em que produtos entram em promoção) no Wal-Mart resultou no pisoteamento de um funcionário da loja logo na abertura de portas. Alguns outros casos famosos repetem a tragédia, como os quatro jovens que morreram em um rodeio de Jaguariúna; e os três que também morreram pisoteados em um show da banda RBD.

Sendo o Efeito Manada uma característica tão comum do homem em sociedade, podemos sentir uma impotência. Mas não é como se fôssemos incontroláveis em bando. É difícil, mas não podemos nos submeter à multidão. O senso de moral e ética precisa vir em primeiro lugar para discernir qual atitude é mais cabível na situação. Um exemplo prático é não sair empurrando todo mundo só porque quer sair logo de uma aglomeração, porque isso pode causar um tumulto incontrolável. Também não podemos repassar informações sem a certeza de sua veracidade, como julgar publicamente uma pessoa sem conhecer de fato sua conduta.


Acho que é o que rola

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Isadora Couto

Sempre me decepciono quando indico algum artista para meus amigos ouvirem. Geralmente, nenhum deles se excitam tanto com a música quanto eu. Acho que gosto é muito particular mesmo, e o meu deve ser mais ainda. Vou indicar alguns artistas que roubarão a cena em 2013, e, se vocês não gostarem, desisto de recomendar música.


M.I.A.

2012 já foi o ano da cantora, com sua participação no hit Give Me All Your Luvin' de Madonna e o sucesso do videoclipe Bad Girls. Mas M.I.A. ainda tem o ano todo pela frente, já que seu novo álbum - Matangi - lançará em meados de Abril. Podemos esperar o misto de hip-hop e eletrônico característico de sua carreira. Estou esperando ansiosa.



Grimes

Sempre quis publicar sobre a Grimes. A cantora pode ser encaixada na safra do Seapunk, mas não é como se isso fosse um gênero musical. Mas é difícil etiquetar o seu som, só é possível de uma forma bem abstrata, tipo dream pop, psicodélico, experimental, eletrônico. A cantora vai bombar porque, nesse ano, eu já comprei três revistas em que ela aparecia: Gloss, Select e Teen Vogue. Ainda não conhecia o trabalho dela? Corre para assistir Oblivion e Genesis.



Blue Hawaii

Finalmente, uma aposta difícil. Blue Hawaii ainda tem uma carreira muito underground, infelizmente, e não vai aparecer tão cedo assim na boca do povo. Até porque o som é mais difícil de conquistar (Lana Del Rey também, mas mesmo assim estourou). Tem uma onda do dream pop da Grimes, mas é bem mais calminho, lento. Minhas favoritas são Try to Be e In Two. Sim, eu tenho preferência por vocais femininos e não sei porque. 




San Cisco
Ano passado a banda de indie rock lançou o álbum homônimo com músicas chicletinhas mas muito gostosas. A sonoridade é lo-fi, tipo banda de garagem mesmo. A música Beach me dá arrepios mesmo não sendo uma grande obra de arte - ou talvez por isso. San Cisco tem um grande potencial para conquistar fãs pelo Brasil, onde a música alternativa está cada vez mais popular.



Bom Retiro 958

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Nathália Giordano


Mais de 20 anos de trajetória, O Teatro da Vertigem está em cartaz com a peça Bom Retiro 985. Definitivamente ocupar espaços, descobrir novos lugares e experiências é especialidade desse grupo incrível. Depois de espetáculos em maternidade, igreja, rio Tietê e até num presídio, esse novo espetáculo explora as ruas do bairro Bom Retiro.

Teatro abandonado, shopping e ruas se tornaram palco. O público segue os atores por quase um quilômetro. Vagando pelo Bom Retiro encontramos o falso silêncio da noite que nos apresenta o que existe por trás de todo o consumismo da rua José Paulino. Durante a madrugada a costureira boliviana trabalha sem parar em sua máquina, os moradores de rua recolhem papelão e o mendigo segue em busca de sua pedra.


Entre os personagens está a minha preferida, uma manequim quebrada. O trabalho de corpo da atriz está impressionante e junto com o figurino maluco te convencem de que ela realmente está a procura de um trabalho, mas não encontra devido aos seus problemas físicos por não ser importada da Coreia. Outra personagem que chamou demais a minha atenção foi uma mulher que aparecia no meio das cenas sem nunca mover a expressão facial. Num momento ela surgiu mexendo no celular e nada abalava sua concentração. Essa cena foi chocante para mim, consegui me ver fazendo exatamente isso, por isso a personagem veio como crítica aos smartfones da vida, a atriz despareceu das cenas e se transformou em pessoa quando estava sentada na calçada e nem tirou os olhos da tela para ver o que se passava em sua frente, comportamento mais do que frequente em São Paulo.

Ao longo da peça sensações extremas nos consomem, desde o riso até o medo. A personagem da empregada que limpa o shopping durante a noite é um bom exemplo do cômico quando arranca risadas do público numa imitação dos musicais americanos. A aflição, a meu ver, foi dominante. Deparei-me com manequins estupradas sofrendo, um teatro completamente abandonado que de repente me deu a sensação de estar num manicômio, um mendigo que eu já não sei dizer se era ficção ou realidade, uma noiva macabra que apareceu no alto de um muro e infinitas experiências que eu diria pessoais.

O espetáculo serviu, na minha vida, como uma critica a todo o consumismo exorbitante mostrando o que é preciso para mantê-lo vivo. Uma atriz interpreta a famosa consumista enlouquecida, a mulher fica vidrada por um vestido vermelho e não consegue deixá-lo para trás, mesmo quando o shopping já fechou. Parece que aquela mulher realmente existe e você está observando-a na realidade dos fatos, assim como a maioria das cenas dessa peça. Sendo assim, depois de dias eu continuei me perdendo entre o que realmente existe e o que estava sendo encenado, durante um passeio no shopping me deparei analisando a manequim e um vestido vermelho que a cobria, o mesmo aconteceu quando caminhava pela paulista e encontrei um mendigo dormindo enrolado num cobertor.

Eu mais do que recomendo essa peça, está imperdível e custa somente 30 reais a inteira, além de poder comprar e imprimir pela internet. 


Minha Vida Agora, um futuro clássico

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Isadora Couto



Engraçado. Se me pedissem para escrever sobre o livro de Meg Rosoff quando eu ainda estava na metade, o texto saíria totalmente diferente deste. Criticaria a escrita, os personagens (inclusive a protagonista) e o enfoque. Mas, afinal, a escrita é realmente ruim, os personagens são difíceis de compreender e o foco adotado só se totaliza perto do final. Só me restou admiração pelo livro que achei entre velhas obras no fundo de uma FNAC.

Narrado pela protagonista, uma garota de 15 anos que sai de Nova Iorque para morar com os primos e a tia em uma fazenda do Reino Unido, a gramática e a ortografia são bem tortuosas (porém, inteligíveis), o que se justifica no final. A garota chama Elizabeth, mas, inexplicavelmente, atende por Daisy. Logo quando ela chega no aeroporto começa o seu fascínio pelos primos: Edmond, de 14 anos, vai buscá-la fumando e dirigindo um jipe. Não é pelos hábitos, no entanto, que ela se encanta por eles. Daisy se convence de que eles possuem poderes sobrenaturais, como ouvir pensamentos ou conversar com animais.

Tudo não passa de sua admiração por algo que fuja tanto de sua rotina. E o mais drástico ainda estava por vir. Logo nos seus primeiros dias do outro lado do oceano, uma guerra explode na Europa. Daisy e seus três primos (três garotos e uma menina) se veem completamente sozinhos, visto que a mãe dos garotos ficou presa em outra cidade. É bem surreal o que acontece a partir daí. A protagonista se relaciona com Edmond de forma precoce, o governo não parece se interessar pelos garotos abandonados e a escassez de comida ameaça atingi-los. E então, o que eles mais temiam acontece.

O tempo em que se passa a história é fictício. Existiam e-mails e aeroportos, mas a linha telefônica era precária e os celulares parecem não existir. Não sabemos ao certo o motivo da guerra, mas percebemos  como ela atinge até as pessoas mais alheias. Na realidade da obra, as crianças se tornam responsáveis pela falta de responsabilidade dos pais. Exceto Daisy, um pouco egoísta, que tem o comportamento anoréxico quando as pessoas estão morrendo de fome. A obra encanta pela cumplicidade que essas crianças "abandonadas" têm entre elas; e ao fechar o livro entendo o porquê o The Observer descreve como "Poderoso e envolvente, um futuro clássico".



ROSOFF, Meg. "Minha Vida Agora", Galera Record.

Superioridade sexual e cultural

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Isadora Couto

Estava fuçando por páginas de humor do facebook e encontrei uma imagem ótima, que sintetiza o complexo de superioridade cultural. Fiquei feliz em saber que até nos lugares mais diversos da internet existia uma certa politização. Minha alegria acabou quando li os comentários.


Bruno ------ Isso, deixem de se depilar, vai ficar lindo.
10 de fevereiro às 23:44 · Curtir · 47

Maria --------  nada a ver na boa KKKK agora tudo que é pra melhorar a beleza da mulher é visto como "a sociedade maléfica que impões seus padrões de beleza terríveis" blablabla, parem com esse mimimi.
Segunda às 00:17 · Curtir · 18

Luke -------- Quem criou a indústria da beleza foram as mulheres livres sexualmente que passaram a competir entre si por mais status. A indústria da beleza não é um padrão masculino opressor, são as mulheres que competem por poder sexual e o aumento da indústria de beleza é o resultado disso.
Segunda às 00:22 · Curtir · 18

Tiago ------- nossa cara, muito igual hein. 

essas mulheres que se cuidam são umas oprimidas
Segunda às 09:13 · Curtir · 12

É um misto de superioridade, machismo e nonsense que dá medo. Oprimidas são as muçulmanas, certo? As brasileiras se depilam com cera porque gostam da sensação. O engraçado é que quem diz isso, muitas vezes, são homens. Como eles podem saber se gostamos ou se estamos nos torturando apenas para nos encaixar nos padrões da sociedade? Porque é isso que todo mundo tenta: se encaixar. Não seria essa uma forma de opressão? Eu, como mulher, sinto que sim. Não vejo problema em um aspecto natural do corpo humano. O único problema que vejo é a depilação em cera, principalmente. Eu considero como uma tortura misógina.

E, sério, "melhorar a beleza de mulher"? Desculpa, mas baseado em que você acha que pele lisa é uma melhora? A Gisele Bündchen é seu padrão de beleza? Então você acha que pintar o cabelo de loiro, afinar o nariz e emagrecer drasticamente também é uma melhora na beleza? Oras, estamos no Brasil, na diversidade de belezas, e ter pelos a mais que outra pessoa era para ser como uma outra diversidade qualquer. 

Por fim, nós realmente queremos conquistar status por meio da estética. Afinal, foi por isso que lutaram durante tantos anos. Pelo direito de ser mais bonita que a vizinha. Pelo amor de Deus! Se queremos algum status, nós trabalhamos e enriquecemos. Porque foi essa a nossa conquista: igualdade salarial. Mesmo que ainda seja uma igualdade remota. Mas eu não creio que alguém lute pelo direito de ser melhor que outra pessoa. Eu sou igual às outras mulheres, sejam elas muçulmanas ou francesas. E quero ser tratada igual aos homens, mesmo que isso signifique deixar minha canela cabeluda. 

Ps: se você curte sua pele mais lisa, ok. Só não fale que é mais bonito e nem olhe torto para as peludinhas na rua. :)

Dramas noturnos

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Nathália Giordano

Ontem fui dormir e não conseguia pegar no sono. Meus pensamentos começaram a me controlar e as várias pessoas que moram dentro de mim resolveram gritar e impedir que eu dormisse. Surgiram tantas coisas na minha cabeça e no final o resumo de minha aflição era o medo de perder alguém ou até mesmo de me perder dentro de mim.

Medo de ir dessa pra outra, melhor ou pior. Não sei. Talvez falte espiritualidade, acho difícil, mas nunca se sabe. Alias nunca ninguém sabe, impossível ter certeza de algo tão abstrato. Tenho medo de morrer e não saber que morri, não ter nada para viver depois, ficar numa escuridão infinita e nem me dar conta disso.

Fechei os olhos, tentei me lembrar de tudo o que há de bom no mundo, mas minha respiração ficou ofegante, minhas mãos suavam frio e por um segundo achei que ia pirar. Nada que nunca aconteceu antes, mas estou aprendendo a me segurar em rédea curta para controlar essas loucuras noturnas.

Alguns minutos se passaram e finalmente eu consegui guiar meus pensamentos. Senti raiva e alívio ao mesmo tempo. Depois, ainda sem sono, passei a refletir se todos sentem essa falta de controle e aflições horríveis antes de dormir. Acho que não, mas no fundo não me importo. A verdade é que quem tem medo está vivendo.

Tem gente que não tem ninguém dentro, dormiu e esqueceu-se de acordar, está o tempo inteiro no piloto automático e não vive de verdade. Não tem medos, angustias e incertezas. Nunca sai do previsível e se sente tão confortável com a rotina medíocre da vida que não precisa se afligir com coisas distantes e abstratas.

Então, por fim agradeci por ter esses espíritos quase incontroláveis dentro de mim, por quebrar regras e conceitos, por sair do script, por ter medos de alguém que dá a cara para bater e segue as intuições, por ter alguém criança dentro de mim cheia de vontade de conhecer coisas novas e que ao mesmo tempo sabe dar valor a uma chuva no final da tarde e, finalmente, por ter a capacidade de, depois de tudo isso, conseguir controlar minha mente maluca e voltar a dormir.



Carnahell

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Isadora Couto

Enquanto uma parte de vocês estão enchendo a cara nesse carnaval e a outra está enchendo a timeline do Facebook de reclamações, eu decidi fazer um balanço geral de todos os carnavais (que eu lembro) da minha vida. Vocês podem não estar nem aí para ela, mas eu quero escrever ainda assim. Afinal, do que adianta ter um blog se não for para postar coisas que eu goste?

Quando pequena, uns 5 anos, minha mãe costumava a me levar ao carnaval de rua da minha cidade, no interior de Goiás. Eu e minhas irmãs mais velhas usávamos fantasias e encontrávamos nossos amigos da escola por lá. Tinha muito confete, serpentina e espuma. Meus pais tinham uma barraca que vendia bebidas e mini-pizzas na loja que a gente tinha na avenida, e era só atravessar para ir fazer um tererê no cabelo em outra barraca. Era demais! Era meu segundo evento favorito do ano, só perdia para a Exposição Agropecuária porque lá não tinha vários brinquedos radicais (e enferrujados). 




Essa foi minha diversão carnavalesca até os meus 10 anos. Porque foi quando o carnaval da cidade começou a ficar famoso, cheio de micareteiros vindos das capitais do Brasil e do estado. A avenida não era mais um lugar seguro para crianças. Minha irmã mais velha acampava em um retiro religioso meio louco, onde os adolescentes cantavam a música da pipoca e balbuciavam língua dos anjos, enquanto a minha irmã mais velha estava curtindo um axé tosco na avenida. Eu não queria e nem podia frequentar nenhuma das opções. Então eu xingava muito no Orkut.

Com 15 anos, uma época em que minha relação com minha família era péssima, eu saí para encarar o carnaval novo da minha cidade pela primeira vez. Foi horrível, como estava destinado a ser. E a culpa nem foi da música! A fofoca é um grande problema de cidades pequenas, e onde eu nasci não era diferente. No outro dia, acordei com os gritos da minha mãe porque ela tinha ouvido fofocas sobre meu péssimo comportamento na festa. Então, por causa da sua atitude exagerada e da minha reação ressentida, fui expulsa da casa dela (eu já não morava lá mesmo). Meio que de brincadeira, né? Tipo, uns meses depois ela estava me convidando para passar as férias lá!


Carnaval da minha cidade

Eu não faço a mínima ideia de como foi meu carnaval com 16 anos. Mas com 17, eu estava totalmente sozinha em São Paulo. Tinha acabado de me mudar e não conhecia ninguém que pudesse sair comigo. Aliás, saí com uma menina que eu só conhecia na internet, e nem era minha amiga nessa época. Fui para a Rua Augusta, mas foi um saco porque eu nem podia sentar no bar sendo menor de idade. Saí depois com uma amiga da faculdade que eu também não era muito próxima. Esse ano está sendo completamente diferente. Eu já sofri de claustrofobia em um bloco de rua na Vila Madalena, já saí com vários amigos para uma balada (que também é na Rua Augusta), e estou digitando da minha casa que está asquerosa por causa de uma "confraternização" que teve aqui ontem/hoje de madrugada.

Eu não tenho o que reclamar do Carnaval. É ótimo não fazer nada por 5 dias seguidos. E como qualquer outra época do ano, ela pode ser boa ou um desastre. É só continuar tentando que você vai se encaixar em algum programa carnavalesco. Ou fica aí na internet, assista umas séries, leia alguns livros, vai pintar o sete.


A geração nua: fotos de Ryan McGinley

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Isadora Couto

A Gloss de fevereiro diz "Se a Hannah de Girls é a voz da nossa geração, o fotógrafo Ryan McGinley é o olhar". Não é pra menos. Suas fotos retratam a liberdade que adoraríamos explorar mais. Como ele faz isso? Com jovens nus, geralmente em lugares selvagens e inusitados. Ryan lançou seu primeiro livro em 2002, The Kids Are Alright, e ainda mantém o mesmo estilo fotográfico.










Dá uma vontade de citar As Vantagens de Ser Invisível: "We are infinite!"



Conservadorismo é atraso social

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Isadora Couto

Uma das características mais presentes na classe média brasileira é o conservadorismo. Aposto que a maior parte dos nossos leitores estão inseridos nesse contexto. Não que você seja necessariamente conservador, mas acredito que seus pais possam ser. Então vocês já ouviram várias vezes que "conservadorismo não precisa ser algo ruim". Eu afirmo que é (e o PC Siqueira também).

Por que você quer conservar o mundo? Essa atitude sempre esteve presente na sociedade, e ela foi um grande empecilho para conquistas como: abolição da escravatura, cidadania feminina, liberdade sexual e o direito de divórcio. Porque, oras, isso é uma afronta à família e aos bons costumes! Claro, todos em sua devida contextualização histórica. Manter as coisas como estão é que é uma afronta: à coexistência de gerações, às diferenças e aos direitos humanos. O que é novo e diferente precisa dar lugar ao antiquado.

A mente da maior classe brasileira deve estar aberta para novas discussões. Se seu filho é homossexual e quer constituir uma família, por que não? É um novo conceito de família, assim como a sua é em comparação aos lares do século 19, por exemplo. A justificativa para a marginalização da homossexualidade, da poligamia e do uso da maconha não pode se restringir aos conceitos morais, mas sim estar ligada às consequências que envolvem toda a sociedade, sejam elas boas ou ruins.

Por fim, um apanhado de pérolas que nunca deveriam ter sido manifestadas, mas foram, por personalidades conservadoras brasileiras:



"Preta, eu não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco e meus filhos foram muito bem educados. E não viveram em ambiente como, lamentavelmente, é o teu." Jair Bolsonaro, quando questionado por Preta Gil qual seria sua reação se seu filho se relacionasse com uma negra




"Os homossexuais querem uma lei para atacar e atingir àqueles que querem." Silas Malafaia





"Um homem também não pode se casar com uma cabra, por exemplo; pode até ter uma relação estável com ela, mas não se casar." J.R. Guzzo, em relação ao casamento homoafetivo 




"Hétero não pega AIDS." Marcelo Dourado, ex-BBB











Selvagemente insosso

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Isadora Couto




Não precisaria nem terminar de ler Selvagens para publicar minha opinião. O enredo é bem atrativo: dois amigos resolvem traficar a maconha mais bem cultivada da Califórnia e compartilham a mesma parceira sexual, Ophelia, que é sequestrada pelo maior cartel mexicano. Legal, né? Só que não. O autor consegue deixar o livro sem sal e sem açúcar.

Sabe aquela velha desculpa de que o filme é ruim mas o livro é ótimo? Não se aplica aqui. A obra literária só sai ganhando porque Don Winslow consegue dar uma historinha legal para cada personagem (historinha porque são bem superficiais). Faltou drama e realidade. Você só se sente atraído lá nas últimas páginas, que são carregadas de violência.

Ponto positivo para a personagem O., que é representada por Blake Lively nas telonas. Ela é bem além de qualquer pessoa que você conheça, e um tanto desejável. O bônus é que ela aguenta dupla penetração. Logo, percebe-se, não é um livro para todos os públicos. E a única coisa que justifica o nome da obra são as aventuras dos três protagonistas: violência, sexo e uma boa mistura de cannabis sativa e indica.

Quer uma dica? Pule para a página 276 e leia o "capítulo" 271. O texto é uma boa crítica à cultura americana, apesar de ser, como todo o livro, bem rasa. Quer outra dica? Não espere muita coisa da escrita de Winslow. Aliás, não espere nada. Melhor você ler sem expectativas e se surpreender do que ter uma bela decepção, como eu tive.



Cabras, espinafres e assassinos

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Nathália Giordano



Manipulador. É essa a melhor palavra para definir Silas Malafaia. Desde o começo da entrevista o pastor chegou com argumentos prontos e bem estudados, nada além do esperado. Silas é formado em psicologia e aparenta saber bem dos assuntos discutidos na entrevista.

Para começar, sobre a grana do líder da igreja “Assembleia de Deus – Vitória em Cristo” não importa se são 300 ou 4 milhões. O pastor possui UMA CASA E SEIS APARTAMENTOS, enquanto muitos de seus fiéis estão bem longe do sonho de possuir um casebrinho próprio. Não consigo enxergar os dois lados dessa moeda, infelizmente. O dízimo, utilizado dessa maneira, não faz sentido a meu ver. E se “Deus trabalha com uma lei de recompensa” seria para ajudar quem ajuda os outros e não quem sustenta um pastor manipulador que vive numa casa de quase um milhão de reais.

Sobre os outros assuntos debatidos, é uma pena que Silas possa vomitar suas teorias. Ele, assim como a VEJA, é um formador de opinião e pode convencer as pessoas de que seus discursos são verdades incontestáveis. É uma falta de responsabilidade dizer/publicar que os homossexuais podem ser curados ou que eles querem direitos demais. Quando na verdade não são doentes e só desejam possuir direitos que nós já temos.

O pastor pode mesmo amar os gays e bandidos, mas ele não conhece os seus fiéis e não sabe do que são capazes, podem interpretar de todas as maneiras esse discurso preconceituoso e passar a discriminar os homossexuais. Será mesmo esse o desejo de Deus?

Cabra, espinafres e assassinos. Marília Gabriela perdeu a compostura quando o pastor comparou os homossexuais com assassinos e bandidos. Compreendo o lado dela, mas é uma pena que a jornalista tenha mesclado sua opinião com o real papel profissional de questionar as teorias do entrevistado (mesmo que eu concorde completamente com ela).

É claro que as igrejas enchem de homossexuais pedindo socorro, é o grito pela ajuda por não ser acolhido em casa e nem na sociedade. Acredito que o problema inicial esteja na Bíblia. A sociedade se desenvolveu, não dá para ficar preso no tempo lendo discursos antiquados. Afinal, de acordo com o Êxodo 35:2, quem trabalhar aos sábados deverá ser morto.

Se Deus existe, para mim, Ele é amor e lá de cima torce que por aqui as pessoas se amem e convivam em harmonia. Na minha concepção, quando dois humanos do mesmo sexo se amam, cuidam uma do outro e desejam passar a vida juntos, Ele assiste sorrindo. De nada adianta esse pensamento coxinha, conservador. Não importa se você é branco, de classe média, cristão e hétero se mal sabe amar os outros e discrimina os diferentes.

Por fim, para mim, Ele quer o planeta com alimento na mesa, quer que todos tenham uma cama para dormir e alguém para amar. Não quer pastor milionário enriquecendo com doação de fiéis. E provavelmente estremece ao ver crianças nos semáforos, porque sonha com todas elas em casa repleta de carinho, pouco importa se são duas cuecas ou calcinhas, contudo que cuidem e amem essas pequenas vidas.

Acredito que o meu Deus seja o mesmo que o da Marília e eu também espero que ele perdoe esse pastor que se apropria do nome divino para montar discursos contra o amor. 





Girls e qualquer uma garota

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Isadora Couto,
com colaboração de Caíque Carvalho




Impossível falar sobre Girls e não ressaltar que a produção, a direção e o roteiro são assinados por Lena Dunham, 26 anos, que também atua na série. E mesmo se tratando de uma história de jovens (e feito por eles), a série se revela muito madura. Nada de ficção científica, nada de juventude drogada, nada de cantorias exacerbadas. O grande diferencial da trama é a representação crua das garotas em Nova Iorque.

Nunca a palavra “crua” foi tão usada para elogiar. Se você acha que uma série simples demais pode ser sonolenta, as 4 indicações ao Emmy Awards podem te provar o contrário. É claro: a simplicidade dos conflitos facilita na identificação. É você, sua namorada ou sua amiga na tela do seu computador (ou você realmente assiste pela HBO?).

A série é classificada como comédia (vide a personagem Shoshanna), mas possui suas boas pitadas de drama: logo no pilot, os pais de Hannah (personagem de Lena) cortam o apoio financeiro e Jessa revela que está indesejavelmente grávida. O desenrolar não é tão mirabolante, e os traços das personalidades das garotas nos levam a refletir os nossos. Será que sou tão egoísta como Hannah? Ou tão desligada quanto Jessa?

Recomendo a série para mulheres, homens, transexuais e o baralho a quatro. Quero que todos possam entender melhor o que acontece na sua vida e ao seu redor por um outro ponto de vista: o de Lena Dunham.

Atriz, roteirista e diretora Lena Dunham



Palhaços sanguinolentos

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Nathália Giordano
  


Um dia desses alguns de meus amigos não quiseram sair, não aceitavam ir para nenhum lugar que não passasse a luta. Meus amigos preferiram ver a luta a dançar, preferiram ver homens sangrando a assistir um filme de comédia no cinema.

A correnteza está puxando e pede para que todos se unam nesse vício podre. Bem vindos à Roma do século I, bem vindos ao circo de 2013, que vergonha! Lutas de gladiadores sanguinolentos rolando solta na televisão em contraste com os avanços da medicina e cuidados com o corpo.

Médicos desenvolvem pesquisas sobre a consequência mental e física em longo prazo desses “atletas” e os resultados nunca foram devidamente divulgados. Falta um pouco de bom senso se o público não reflete sobre isso, as lutas são recheadas de golpes violentos e difíceis de assistir sem fechar os olhos, os homens com as orelhas deformadas e o rosto sangrando. Como poderia um “esporte” como esse não fazer mal à saúde? Saúde física daqueles que estão no ringue e mental dos que assistem pelo sofá de casa e espalham pelo seu lar essa energia ruim.

Não coloquei uma imagem mais ilustrativa porque não quis sujar o meu blog

Olhando as notícias sobre o UFC só nos resta lamentar, cada vez mais as manchetes noticiam o ser humano se autodestruindo. Nosso instinto é buscar a sobrevivência, nos manter vivos e saudáveis. Aí ligo a TV e vejo dois homens se batendo até cair.

No R7: “Joe Lauzon recebe lona ensanguentada
como prêmio após duelo histórico no UFC. 
Americano apanhou muito de Jim Miller, mas mostrou raça para permanecer no combate”

Onde está o mérito? Mostrou raça para continuar no combate? Raça é estudar para salvar vidas, raça é qualquer outra coisa, mas jamais ser irresponsável e tolo de se manter num ringue com o seu sangue sujando o chão.

No site Terra: "Alistair Overeem diz que destruirá Pezão no UFC 156"
Eu teria vergonha em dizer isso, sujar minhas mãos com o sangue de alguém. A troco de nada? Não é a luta contra a ditadura, é a luta vazia de significados, somente para sujar a lona e ganhar uns milhões, enquanto a geral vira a madrugada para ver uma briga de galo.

Assistindo “Django Livre” percebi que nossa sociedade se desenvolveu tanto e ao mesmo tempo em alguns momentos sinto que estamos parados no tempo. O filme mostra uma cena em que Calvin Candle (Leonardo DiCaprio) coloca seus escravos para lutarem entre si e somente um poderia sair vivo. É matar ou morrer. E essa cena não perde para o UFC, a única diferença é que hoje eles podem sair quase vivos.





Os anjinhos do capitalismo

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Isadora Couto

Hoje eu estou revolts com o sistema. Eu não sei como uma pessoa consegue olhar para o socialismo, anarquismo, feudalismo, e qualquer outro sistema e julgar o capitalismo como o melhor. Baseado em que? Baseado na sua vida em frente ao computador enquanto uma criança morre de fome a cada 6 segundos na África? Esse exemplo pode ser clichê, mas você acha que está tudo certo quando sua empregada ganha um salário mínimo para sustentar 3 filhos enquanto seu pai ganha 15 mil para sustentar você?

Eu nunca me questionava sobre o nosso sistema, e simplesmente achava que era porque eu não tinha nada a acrescentar. Mas como vamos encontrar soluções se ignoramos os questionamentos mais básicos, como “Está funcionando?” e “Porque a miséria existe?”. É sim utopia pensar que um dia vamos encontrar a fórmula perfeita para a civilização, mas precisamos minimizar as consequências. Afinal, “todos nós somos escravos até que o último homem seja livre” e devemos assumir a responsabilidade por todos.

Um questionamento muito intenso nos últimos dias foi o por quê nos chocamos tanto com tragédias ocidentais (incêndio de Santa Maria, chacina de Realengo, ataque nas Torre Gêmeas) e esquecemos da violência causada pelo narcotráfico, das vítimas da fome e da exploração infantil. A resposta é simples: a identificação. O que acontece “próximo” a nossa realidade nos afeta mais, porque podemos ser as vítimas (e nunca nos sentimos os culpados). Mas é justamente isso que está tão errado. Se você convive com essas injustiças, aceita e não questiona, você é responsável por elas.

Você já comprou uma roupa na Zara, ou já adquiriu uma arma ilegalmente, ou desperdiçou um alimento que demorou horas para viajar até sua casa, ou consumiu alguma droga ilegal (incluindo bebidas falsificadas). E se você fez qualquer uma dessas coisas, você já financiou a morte, foi cúmplice da miséria e tirou vantagem da desgraça alheia. E então, vai continuar pensando em como você pode guardar mais grana para o Lollapalooza ou em como os mendigos da sua rua podem arrumar dinheiro para comer?